Sábado fui a um churrasco na casa de uma colega de faculdade que voltou para a cidade este ano. Ela é casada com um profissional da área de saúde há oito anos e acaba de ter seu primeiro filho. Aceitei o convite por pura educação, pois nunca fomos tão próximas quando estudávamos e eu imaginei que me sentiria deslocada em um ambiente 100% hétero, somente com “casados-desconhecidos-e-seus-filhos”. Não estava errada em minha avaliação.
Logo ao chegar, fui apresentada à sogra dela, que, antes de saber sequer o que eu fazia da vida, disparou a pergunta à queima-roupa:
- Você é casada?
- Não, respondi.
Ignorando a resposta, disparou outra na seqüência:
- Já tem filhos?
- Não, respondi, seca, novamente.
Aquilo me incomodou demais, por dois motivos: primeiro, porque se eu fosse homem ela JAMAIS me perguntaria isso. Pergunta-se a um homem o que ele faz da vida, para que time ele torce, qual carro ele dirige ou qualquer outra bobagem relacionada ao universo masculino, mas nunca é importante se ele é casado ou tem filhos. Não existe essa pressão do casamento sobre eles. Homens são livres para ser o que quiserem, ao contrário das mulheres, que são obrigadas pela sociedade a exercerem seu papel de esposa/dona-de-casa/mãe.
Segundo, incomodou porque, durante toda a conversa que fui obrigada a ter com ela durante o almoço, em momento algum ela se interessou pelo meu trabalho, pela minha formação ou pelos meus interesses. Espera-se que as mulheres tenham como meta de vida casar e ter filhos e todo o resto de suas realizações pessoais é ignorado.
Claro que isso foi só começo do festival de preconceitos do dia.
(Continua...)
16 comentários:
Ah minha cara Alice... que triste (e feliz) ler o seu diagnóstico. Triste dizer, mas o mundo hetero (mais conversador) é uma merda mesmo. E feliz, pq vc é capaz de ver as coisas dessa forma como viu!
Aguardando a parte 2!
bjs
Melhor mesmo é evitar esses ambientes... eu ñ tenho a MENOR paciência...
Já começou com o pé esquerdo né..
É OSSO!
Só quero ver quais foram os outros preconceitos colocados na mesa...
quem mandou voce ir?
Se isso foi o começo, não quero nem imaginar o resto... Hoje fui em uma nova psicóloga e ela me falou que eu posso me "curar". Nunca mais volto lá! O jeito é evitar mesmo... É o único...
"adoro" um preconceito, no sentido q podemos ser escrotos de vdd com pessoas assim.
Marie, sério?
isso foi tão broxante .-. se a parte 1 já foi assim, estou com medo de pensar na parte 2.
shauhasuh
Essa senhora deve ter o passado negro...
só quer saber se não está só...
=)
E contra o preconceito?!
cara Blazé...aspecto: origami...
a mãe dela deve ser velha, minha bisavó uma vez disse, ao me ver de gravata, e depois de me dar um puta esporro, que morreria de desgosto se soubesse que eu era sapatão, que mulher de gravata era isso, sapata. Ta, que ela acertou o meu caso, mas ridículo achar isso..
Ninguém merece. Nós mulheres somos muito mais do que isso. Você deveria ter perguntado pra ela: A senhora se formou? Trabalha em que?
Só pra ver a cara dela.
Bju dear...tem selinho pra vc no blog.
Tenho uma amiga hétero que empola com essas perguntas.
É uma merda termos que ouvir esse tipo de coisa.
Essa imagem que a mulher tem de "Amélia" parece que naõ vai acabar nunca. Chegamos numa certa idade temos que casar, ter uma dúzia de filhos e não tirar a barriga do fogão (para os hts).
Aguardando a continuação...
Beijoos
Esse moça parece meu pai, que não se interessa o mínimo em saber nem em que ano eu estou na faculdade porque isso, pra mim não eh importante, o importante eh que um dia eu vou casar com um cara bacana e pronto.
[ele se ilude fácil, tadinho]
*ódio*
Para esses tipos de pergunta, sempre solto uma resposta, automatica, crua, eficaz: "Antes só do que mal acompanhada".
Nessas ocasiões, eu sempre faço cara de nojo pra tudo, como se a pessoa que me dirige a palvra estivesse com a cara cheia de bosta. Baixa a Odete Roitmann lésbica. No-jo!
Eu sei que é escoto, mas essa gente homofóbica e sem respeito não merece simpatia.
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