segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Carta a uma Presidente

Prezada Dilma,


Vou dispensar a formalidade de chamá-la de vossa excelência, porque acho que a situação pede tratamento mais coloquial.

Sempre desconfiei desse seu jeito butch de ser. A voz grossa, a postura autoritária e a cara de brava denunciavam sua alma sapa. Eu entendo que o rigor do cargo a impeça de aparecer no Palácio do Planalto de braços dados com uma primeira-dama – além do escândalo, seria uma trabalheira para o Cerimonial do Itamaraty, né? “Sra. e Sra. Rousseff”, já pensou? Muita modernidade, acho que o povão ainda não está preparado para isso...

Mas fiquei feliz com seu gesto de boa vontade com o brejo hoje: receber a Marta, ícone-mor da sapatonice-esportiva, e dizer que vai apoiar o futebol feminino fez você ganhar muitos pontos comigo! Estou ansiosa para vê-la usando essa camisa do Santos e jogando pelada (sem trocadilho, sua safadinha!) na Granja do Torto.

Arrume um tempinho na sua agenda de presidente e prestigie as meninas no mundial, em junho. Elas vão adorar recebê-la por lá – Martão e Dilmão fariam um belo ataque, hein?

Só fico curiosa em saber qual será o próximo passo para mostrar ao país do que você gosta: showzinho particular com a Ana Carolina no Palácio do Alvorada? Ou você prefere a nova geração e vai chamar o bofinho-revelação da sapa-music, Maria Gadú? Não vejo a hora de saber a resposta!

Ansiosa por notícias da Capital Federal, despeço-me.


Beijos patriotas de Lesboland,


Alice


_________________________________________________
Postscriptum:
1) Sugestão de pauta e dica da matéria no G1 by @marinexhoff.
2) Dilmistas, por favor, tenham senso de humor e não fiquem bravos com a brincadeira, ok? Não é política, é só deboche...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Caminhando - Parte II (Final)

(Continuação)

A gordinha que já desistiu da dieta. Essa fica andando devagarzinho, só pra falar que faz caminhada e aliviar o peso da consciência. Devidamente uniformizada, tênis de corrida no pé, MP3 player funcionando a todo vapor, está na verdade admirando a paisagem e ouvindo música, porque não queima uma caloria sequer com seu aparato.

O homem da meia preta, um clássico que também costuma aparecer nas academias. É o sujeito que sai do trabalho e leva o tênis para usar no exercício, mas nunca se lembra de colocar a meia branca esportiva na bolsa. Costuma usar também a mesma blusa com a qual foi trabalhar, o que gera um Frankeinstein fashion, de tênis e meia de seda, bermuda e camisa social.

O empolgado, que fica balançando os braços em alongamentos malucos enquanto anda, como se isso aumentasse o gasto energético. Mexe tudo o que pode, e às vezes parece que está tentando levantar vôo. Alguns quase conseguem, de tanto que batem as asas. Eu juro.

O metido a atleta, que quer dar uma de Rocky O Lutador subindo a escadaria do Museu da Filadélfia. Anda todo equipado com medidor de passos, cronômetro e reloginho para medir batimentos cardíacos. Na primeira volta, corre feito um velocista dos 100 m rasos querendo bater o recorde mundial; na segunda, já está se arrastando, suado e vermelho, rendido ao coração acelerado e aos pulmões que ardem. É forte candidato a uma síncope – deveria ter uma ambulância por perto quando esse tipo estivesse na pista.

_____________________________________________
Escrito com ajuda especialíssima de Rainha de Copas

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Caminhando - Parte I

Tenho feito neste verão – sempre que São Pedro deixa – caminhadas no fim do dia no campus da universidade. E tenho observado uns tipos bem engraçados por lá...

O workaholic, que não se desconecta nem quando está de short e regata. O sujeito corre e fala ao celular: o aparelho fica suado como o dono e a conversa sai toda truncada, conforme o telefone sobe e desce nas passadas e o fôlego permite ou não o diálogo:
- Compra tudo, porque... Arf... barato. E vê se encomenda... Arf arf... porque esse lote... Arf... Financiado não dá porque... Arf arf arf...

O casal apaixonado, que não se desgruda: anda o tempo todo de mãos dadas, ainda que o passo dele seja duas vezes mais rápido que o dela. Geralmente estão mais passeando que fazendo caminhada, porque é impossível andar em ritmo acelerado e sincronizar mãozinhas. Sempre que vejo um desses, me pergunto onde termina a paixão e onde começa a posse. Nunca sei.

O dono de cachorro, que quer aproveitar a caminhada para fazer o bicho se exercitar também. Morro de pena dos cães menores, como poodles, que precisam acompanhar o passo de quem está correndo. O animalzinho quase enfarta depois de duas voltas. Pior são os cães que deixam “presentinhos” no caminho para você pisar, feito minas terrestres malcheirosas, que explodem em sujeira sob seu pé quando você dá uma passada mais apressada e desatenta.

A pistoleira-periguete, que está sempre maquiada e com o cabelo chapeado preso na buchinha. Usa calça estampada de oncinha, muito justa, com meia grossa por cima da legging cobrindo toda a canela; o top sempre tem um decote provocante. O tipo não possui idade certa: varia dos 20 aos 50 anos e não tem como objetivo se exercitar, mas observar os sarados (sejam eles coroas ou não) e tentar seduzir algum deles com um flerte atlético. Seu negócio não é malhação, é pegação.

(Continua...)

__________________________________________
Escrito com ajuda especialíssima de Rainha de Copas

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Diga não

A União tem esses sachês de açúcar com mensagens edificantes. Achei criativo: você adoça o café e pensa na vida. Hoje fui sorteada com esse aqui:


Juro que, inicialmente, eu li: Diga mais não. Depois que associei a imagem da mocinha comendo o bolo de chocolate com o texto que vi que era “menos não”.

Eu não concordo com a embalagem. Eu proponho dizer “mais não” como uma das formas de se alcançar a felicidade.

Dizer não para aquele seu parente cara-de-pau quando ele te pedir mais um favor absurdo, sem nunca te oferecer sequer o reconhecimento pela ajuda.

Dizer não para aquela happy hour com colegas venenosos do trabalho, que certamente se transformaria em uma sad hour depois de meia dúzia de cervejas, e ir para casa assistir aquele programa legal na TV a cabo que você tanto gosta.

Dizer não para o sexo, ainda que seu corpo arda de desejo, quando o que seu coração mais quer naquele momento sejam apenas aconchego e carinho.

Dizer não para aquele almoço em família onde você vai ouvir piadas machistas e homofóbicas dos seus parentes e sair de lá com a comida e a indignação engasgadas.

Dizer não para drinques & balada com amigos naquele sábado em que o seu corpo pede chá & edredom no aconchego de sua casa.

Dizer não para as demandas daquele seu amigo vampiro emocional, que te suga as energias, o ânimo, o dinheiro, a presença e tudo o mais que ele encontra pela frente, e jamais devolve o que levou.

Dizer não quando sua namorada te obriga a ir novamente àquele restaurante moderno e caro, com comida esquisita que você odeia, quando sua vontade é apenas devorar um cachorro-quente com muito molho na barraquinha da esquina.

Dizer não para a Vendedora quando ela insiste que aquela blusa está “ótima” em você, quando o espelho e o seu bom senso mostram justamente o contrário.

Dizer não, mesmo que ainda gostando dela, para aquela ex mau caráter que te procura cheia de arrependimentos depois de ter partido o seu coração, prometendo que tudo dessa vez será diferente.


E vocês, para o que andam precisando dizer não?