Era uma vez uma Sapa cantante, que passava todo o verão em bares lésbicos, tocando violão e cantando MPB. Levava uma vida boêmia, tomando breja e seduzindo girinas. Não se preocupava com o futuro, pois queria viver intensamente aquela rotina de prazeres fugazes.
Chegava em casa com o sol nascendo, e ia dormir quando todos acordavam para trabalhar. Passava todos os dias em frente ao formigueiro, e era sempre repreendida pela Formiga:
- Você não se cansa dessa vida promíscua e vazia, sem compromisso com o futuro?
- Deixe de ser tão responsável, Formiga! Você trabalha demais e se diverte pouco! Você devia sair comigo qualquer noite dessas, dizia a Sapa em tom matreiro, dando uma piscadinha de olho para a Formiga (que não era de se jogar fora).
Então chegou o inverno e os bares se esvaziaram. Os bichos se recolheram em suas tocas e a vida noturna esfriou. E a Sapa não tinha mais onde cantar, e faltou dinheiro de cachê para comprar cerveja e o jantar.
Então a Sapa bateu à porta da Formiga:
- Formiga, me ajude! Estou sem bar para tocar e minha geladeira não tem mais breja!
- Você deveria ter ouvido meus conselhos, Sapa! A vida não é feita só de mulheres e bebida. Mas vou te ajudar, porque você é uma sapa talentosa.
A Formiga, influente que era, entrou em contato com gravadoras mil, e enviou vários demos da Sapa. Um produtor gostou do que ouviu, e achou que aquela voz macia merecia uma chance.
Logo a Sapa estourava na parada de sucessos e tinha música tocando na novela das 7. E a Formiga deixava seu trabalho no formigueiro para se dedicar à vida de empresária da Sapa.
As girinas voavam em cima da Sapa nos shows, mas ela não queria mais aqueles amores de uma noite só. Queria mesmo a Formiga, que a havia tirado da vida boêmia e valorizado seu talento.
Então a Sapa criou coragem e se declarou. E descobriu que a Formiga se apaixonara bem antes, quando a ouvira cantar docemente no estúdio. E as duas viveram felizes para sempre, morando em uma mansão enorme com uma geladeira duplex que nunca ficava sem cerveja.